Quatro passos simples para apoiar as pessoas que nos interessam.
Quais são os nossos maiores medos, preocupações? O que falar quando não sabemos o que dizer nos momentos difíceis?
Na maioria das situações temos sempre algo a dizer, sempre uma opinião e um conselho. Mas quando se trata de uma doença grave ou morte, onde se encontram as palavras?
Com certeza já teve amigos que perderam alguém que eles amavam muito – um avô, pai, parceiro ou até mesmo um filho. Deve-se ter questionado o que deveria dizer ao certo “sinto muito? Tudo vai ficar bem?” a verdade é que, pode não ser bem assim. Pode dizer “os meus pêsames”, mas de alguma forma isso soa algo formal.
Então, o que deveria dizer?
Segundo o psicólogo Charles Garfield, fundador do Projeto Shanti, uma organização movida a voluntários que cuida das necessidades de pessoas seriamente doentes, essa é a pergunta errada de se fazer. “Não há nenhuma coisa certa, como se fosse um texto programado, como se houvesse a coisa certa para todos os momentos e lugares”.
Em vez de nos concentrar em pensar o que dizer devemos nos concentrar mais em ouvir, por exemplo “Eu gostaria de poder dizer algo para levar tudo embora, mas não posso”, lamento, “O que eu posso fazer é ouvir..”.
Esteja disponível para a pessoa, ouça suas histórias.
Mas, a menos que sejamos terapeutas, não fomos especificamente treinados para ouvir. De fato ouvir pode parecer assustador, e é tentador apressar-se e tentar dizer algo que “conserte” a situação.
Quando se trata de perda, só podemos estar com a pessoa enlutada na realidade de que o seu ente querido nunca retornará.
Quatro etapas que podem ajudar:
Passo 1: Pare
É fácil ficarmos presos nos nossos sentimentos, envolvidos na agitação do dia, do stress do trabalho, das nossas dúvidas. Temos uma vida demasiado ocupada, e muitas vezes estamos saindo do trânsito, prazos e listas de tarefas. E não podemos simplesmente entrar numa conversa com alguém que sente dor e pensar que podemos acabar com tudo isso e ser bons ouvintes.
Em vez disso, devemos parar e virar a nossa mente para um “modo” diferente – não de fazer, resolver e consertar, mas sim de ouvir profundamente. A melhor maneira de fazer isso é levar alguns minutos para pausar, respirar e acalmar nossas mentes. Lembre-se porque veio. Não é para impor uma agenda, e não é para fazer toda a situação ir embora. Não pode.
Em vez disso, está lá para mostrar amor e apoio, para descobrir o que é necessário.
Passo 2: Aproxime-se e faça o contacto
O próximo passo é realmente começar a conversa. Há muitas maneiras certas de fazer isso, e as palavras específicas provavelmente não importam tanto quanto a mensagem geral: “Estou aqui para você”. Então, mantenha as coisas simples. Comece perguntando-lhes algo como: “Como está? Como as coisas estão indo?”.
Siga as orientações em função de como elas respondem. Talvez, gostariam de falar sobre algo leve e perturbador como próximo jogo de bola, a fofoca da família ou os ovos que eles tinham no café da manhã. Alternativamente, eles podem apenas prontos para falar sobre a dor que estão passar ou contar histórias sobre a pessoa que eles perderam. De qualquer maneira, siga o exemplo deles.
Passo 3: Continue, volte ao tópico quando estiver à deriva.
Ouvir profundamente é um pouco como meditar. Na meditação, as pessoas são encorajadas a concentrar-se num único estímulo, geralmente a respiração. Quando os pensamentos perturbadores surgem, os “meditadores” reconhecem esses pensamentos com compaixão e depois os deixam ir, voltando à respiração. Na escuta profunda, as nossas mentes podem facilmente divagar. Os seus pensamentos provavelmente vão muito longe, ”…estou com tanto medo. O que faço?… Por que é que isto está acontecer? Por quanto tempo tenho de ficar? Eu não tenho ideia do que dizer. Eu não aguento mais um minuto disso…” Este tipo de diálogo interno é totalmente normal. E, assim como na meditação, quando isso acontece – e muitas vezes – podemos gentilmente trazer o nosso foco de volta para a pessoa que estamos a tentar ajudar.
Passo 4: Lembre-se de continuar a respirar
É preciso coragem para apoiar alguém que passa pela dor. A tentação humana natural é fugir do desconforto. Mas quando realmente nos importamos com alguém, superamos essa tendência, abrindo-nos aos sentimentos da pessoa. É importante não ficar muito envolvido com os problemas da outra pessoa. O quarto passo é relembrar que, apesar de estarmos lá para apoiar o indivíduo em luto, também somos uma pessoa separada. A dor não é a sua dor. Quando as pessoas estão passar por uma perda, é normal e natural que elas caiam num poço de desespero. Mas, quando chegamos a esse buraco para ajudá-los, devemos nos lembrar de não cair com eles. Respire, a nossa respiração é como uma espécie de corda. Se achar que está perdido nas suas próprias reacções, respire fundo algumas vezes para ajudar a limpar a sua mente e trazer o seu foco de volta para a outra pessoa. Mesmo enquanto estiver com essa pessoa, esteja no seu próprio corpo, com a sua própria respiração. Saiba que pode ajudar melhor os outros quando estiver dentro de si mesmo.
Há uma promessa que as pessoas precisam ouvir, mais do que qualquer outra, daqueles que amam e se importam com elas: “Eu escolho estar aqui… E estarei com você mesmo no desespero.”
Fazer isso nunca é fácil, claro. Mas também é uma das coisas mais importantes que qualquer um de nós pode fazer pelas pessoas nas nossas vidas.